Análise: o que há por trás da compra do Skype pela Microsoft


Uma das novidades que os clientes da empresa podem esperar é a integração da plataforma do Skype com os produtos e serviços da Microsoft. Foto: AFP
Steve Ballmer, da Microsoft (esq.) e Tony Bates, do Skype, falaram sobre integração
Foto: AFP

EMILY CANTO NUNES
Na terça-feira (10), a Microsoft anunciou a compra do Skype por US$ 8,5 bilhões, em uma das maiores aquisições da história da companhia de Redmond. A notícia da aquisição, seguida de uma coletiva de imprensa com Steve Ballmer, diretor executivo da empresa de Bill Gates, acompanhado de Tony Bates, CEO do Skype e agora responsável pela divisão Skype dentro da Microsoft, tomou conta da imprensa nacional e internacional. O negócio, que pode parecer só mais um do movimentado mercado de tecnologia da informação (TI), esconde várias histórias por trás.
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Para os analistas do mercado de TI, os usuários não devem ser prejudicados pela aquisição do Skype, pelo contrário. Com todas as integrações prometidas pela Microsoft - Xbox, Kinect, Outlook, MSN, Lync e o tão aguardado Windows Phone 7 - os clientes do software que permite fazer chamadas de vídeo e voz através da internet, o chamado VoIP, podem ficar tranquilos.
Para Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, seria um tiro no pé a Microsoft fazer qualquer mudança nos serviços oferecidos pelo Skype desde 2003, muitos gratuitos. Mesmo diante da concorrência, a Microsoft não deve restringir o uso do Skype aos dispositivos com Windows, por exemplo. "Para a Microsoft, é muito bom ter um software seu sendo utilizando nas plataformas concorrentes. Até porque se eles fecharem o Skype, outras soluções iguais ou melhores vão surgir e eles perdem usuários. Quem pode não gostar de ter um produto da Microsoft em seus dispostivos é a Apple", comenta ele.
Fernando Lima, analista do mercado de software do IDC, também não vê a aquisição como um problema para o usuário. Em sua opinião, é muito improvável que a Microsoft passe a cobrar pelo serviço gratuito, ou algo semelhante. "Acho que eles não vão atacar por esse lado", afirma Lima, que acredita que a Microsoft vá aproveitar o conhecimento e a experiência do Skype para agregar serviços ao Lync, uma espécie de MSN corporativo da empresa de Redmond, ao Windows Live Messenger (MSN) e ao futuro Windows Phone 7. "A Microsoft sabe, como todo mundo, que o foco agora é o smartphone e que é preciso investir para conquistar o usuário".
Na opinião de Lima, o modelo de negócio do Skype é que ainda é pouco compreendido, especialmente no Brasil, mas deverá ser entendido pelas operadoras de telefonia móvel quando o Skype virar de fato uma alternativa às ligações feitas dos smartphones, mesmo a longo prazo. Em muitos lugares, a velocidade da conexão ainda dificulta o uso do Skype nos smartphones, que realiza as chamadas de celular através da internet (Wi-Fi) e de conexões 4G, 3G e até EDGE, como o Skype no computador.
Vale lembrar que de Skype para Skype, as chamadas são gratuitas, mas para ligar de um Skype para um número de celular ou para um telefone fixo é preciso pagar, assim como é preciso pagar para ter um número de Skype que receba ligações de telefones fixos e móveis. As tarifas, entretanto, estão bem abaixo das que são praticadas na maioria dos mercados. Para o analista do IDC, as operadoras brasileiras vão dar um jeito de continuar lucrando, nem que seja através dos planos de dados, como já acontece na Europa.
Já o Skype, dentro da Microsoft, deve dar lucro na medida em que a empresa de Bill Gates investir em publicidade online, um conhecimento que o Skype não domina e no qual a Microsoft estaria interessada. "Para o Skype, que não gerava muito receita, a única a alternativa era se juntar com quem possa ganhar com o seu software", afirma Tude. Em termos de publicidade online, o Google e o Facebook estão bem à frente, e é justamente por isso que a Microsoft precisava de mais um produto para entrar de vez nesse mercado. No caso, o Skype. A experiência com MSN, outra grande aquisição da Microsoft, mas nos idos de 1997, já lhe ensinou muito, mas é preciso fazer mais para concorrer com Facebook e Google e com seus anúncios cada vez mais elaborados.
Concorrência interna e externa
Nesses menos de cinco dias após o anúncio da compra, muito se leu e se ouviu falar sobre a aquisição bilionária da Microsoft de uma empresa que não estava com essa "bola toda". Embora tenha um número de usuários bastante relevante, o Skype há tempos não era uma companhia muito lucrativa. Uma das hipóteses levantadas pela imprensa, e confirmada por analistas, é de que a Microsoft decidiu comprar o Skype para impedir que ele caísse nas mãos da concorrência. O presidente da Teleco, Eduardo Tude, está de acordo com essa opção, uma vez que não ele vê "sinergia entre o negócio da Microsoft e o do Skype". Em sua opinião, o Skype ganha ao ser vendido por tão alta quantia, é claro, mas a Microsoft nada leva em troca. De fato, a própria Microsoft tem softwares como o MSN, o Lync e o Outlook, além de produtos como Xbox Live e seu Kinect, que nas mãos de bons desenvolvedores poderiam chegar a ser um Skype somente utilizando soluções e o conhecimento da própria Microsoft.
Tude diz que o Skype estaria em melhores mãos se tivesse ido parar no Facebook ou no Google, pelo conhecimento de redes sociais que essas duas grandes companhias possuem. Ballmer, na entrevista coletiva sobre a aquisição do Skype, disse que a compra motiva a Microsoft a dar um passo na direção do social ao integrar produtos e serviços em uma única plataforma, mas em momento algum explicou como isso se daria. "O eBay também prometeu uma integração quando comprou o Skype e nada foi feito até então", lembrou Tude. Em 2005, o eBay comprou o Skype de seus fundadores, o sueco Niklas Zennström, e o dinamarquês Janus Frii - ambos criadores do site de compartilhamento de arquivos conhecido como Kazaa -, mas em 2009 vendeu parte do Skype para o fundo de investimento Silver Lake. "É mais fácil o Facebook criar um Skype, do que a Microsoft criar um Facebook", conclui Tude.
"O que interessa mesmo para a Microsoft é a base de usuários", diz Tude, que reforçou também que com o Skype, a Microsoft pode conquistar mais espaço na internet, onde está representada pelo Windows Live Messenger e pelo buscador Bing, mas que ainda é muito pouco perto de seus concorrentes. Hoje, o Skype tem 170 milhões de usuários em todo o mundo, os quais passaram 207 bilhões de minutos conversando por voz e vídeo em 2010.
Na opinião de Fernando Lima, de fato, para a Microsoft, o Skype era mais importante do que para os seus concorrentes. "A estratégia do Facebook ainda não está clara, e o Google tem suas próprias ferramentas. Para a Microsoft é bom, pois o Skype é uma marca muito forte no mercado", afirmou ele. O analista da IDC lembrou ainda da Cisco, ex-empresa de Tony Bates antes de ir para o Skype, no final do ano passado, e que estaria interessada em ter mais espaço no mercado de telecomunicações. A Cisco é maior competidora da Microsoft em soluções de comunicações unificadas, produtos que possuem troca de mensagens, VoIP e outros serviços voltados às empresas. Entretanto, a Cisco não está no seu melhor momento financeiro. Nesta sexta-feira, a Cisco Systems anunciou que deve demitir milhares de funcionários para realizar a meta de corte de custos de USS 1 bilhão anunciada pelo presidente-executivo John Chambers.
Fernando reforçou ainda que por mais que Apple, Google e Facebook sejam concorrentes, a Microsoft tem um espaço no mundo corporativo que os outros não têm. "Ainda assim, é difícil afirmar que esses grandes players dominarão as plataformas utilizadas por usuários porque esse é um mercado que está sempre mudando, e amanhã pode surgiu outro concorrente de peso". Afinal, as start-ups - empresas jovens e inovadoras percisando de investimento -, como um dia já foi o Facebook e o Twitter, estão por aí

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